25 maio 2005

Terça-feira dia 24

Vou para a minha segunda semana no clube. Acabei por não falar antes com o Toni, o meu colaborador, sobre as actividades que pensei para hoje. Trabalhei um pouco em cima da hora. Este é um dos meus grandes defeitos. Tentei arranjar coisas simples que não nos exigissem materiais ou ingredientes que não existissem já no nosso stock ou à mão na cozinha ou no bar. Quando cheguei, o Luís, o Ricardo e o Vasco já estavam à espera. Começam a tornar-se membros permanentes do clube. O Luís lá foi comentando que existem poucos miúdos a gostar de ciência. Tentava assim justificar as poucas presenças. Uma das actividades que testámos várias vezes e que fomos tentando optimizar foi a da garrafa vulcão que adaptei de "o meu primeiro livro de ciências"[1]. Depois tínhamos outras como por exemplo uma que trabalhava os métodos de separação dos componentes de uma mistura[2]. Esta escolhi-a a pensar no Jorge que tinha falado das misturas heterogéneas que estava a dar na escola. O Jorge não apareceu mas eles divertiram-se na mesma. O Ricardo e o Vasco estavam muito atentos ao que o Luís ia dizendo que era preciso fazer para separar a pimenta do sal. Conseguiram mesmo chegar à destilação quando ponderaram recuperar a água que haviam adicionado à mistura. O Ricardo confessou que apesar de estar no 8º ano e já ter dado este assunto não tinha nenhuma ideia de como fazer. A propósito, uma coisa que sinto que está a acontecer e isso verifica-se muito com o Ricardo é que ele, perante uma determinada situação, fica muitas vezes a tentar lembrar-se do que terá memorizado na escola sobre os assuntos e não consegue pura e simplesmente pensar nas situações de forma livre usando os saberes que tem para as resolver sem estar agarrado à escola e ao que pensa ser o "certo" aprendido na escola e com a linguagem que a escola lhe ensinou. Quando não consegue isso, o que inevitavelmente acontece muitas vezes, bloqueia e fica inseguro. Importa lembrar que estamos num espaço completamente informal, onde ninguém obriga a pensar ou a fazer as coisas como na escola, a fazer tudo "dar certo" apesar de eles saberem que eu sou professora e qual a minha área de formação. Aliás aproveitam muito para falar do que estão a dar na "minha disciplina". Neste momento são questões de óptica, as leis da reflexão. Penso proximamente preparar algumas actividades sobre este tema. Neste dia fizemos também uma cromatografia simples em papel[3] e o Vasco descobriu que não sabia que o álcool ou a água subiam no papel quando se mergulha só uma pontinha. Quando tentámos a actividade "papéis teimosos" adaptada de http://cienciaemcasa.cienciaviva.pt/papeis.html verificámos que mais gente tinha entrado na sala e observava o que fazíamos. Entrou mesmo um outro miúdo que também acabou por participar na actividade e dar a sua opinião. Como trabalhámos de porta aberta algumas pessoas que passavam no corredor também iam olhando intrigadas o que fazíamos. Começámos a reservar a última meia hora de trabalho para escrever alguma coisa sobre as actividades realizadas. Eles não gostam muito de escrever mas lá vão pelo menos fazendo alguns esquemas e colocando legendas. O Vasco que no primeiro dia quase não tinha escrito nada, desta vez já conseguiu fazê-lo com menos esforço e falou da actividade que mais gostou de fazer. Deixámos por fazer o resumo sobre a actividade do Géiser caseiro (http://cienciaemcasa.cienciaviva.pt/geiser.html) porque o Luís lembrou-se que já tinha ouvido falar de géiseres em ciências e ficou de trazer mais alguma informação sobre o tema. [1] Wilkes, A. (1991). O meu primeiro livro de ciências. Lisboa: Civilização. [2] Actividade adaptada de: Cruz, N., Martins, I. P. e Martins, A. (1990). À descoberta da química – 8º ano, (3ª ed.). Lisboa: Porto editora [3] Idem

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